O labirinto de espelhos
- Publicado em Notas do Cotidiano
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Eu tinha onze anos quando visitei pela primeira vez um labirinto de espelhos.
É jornalista, formada em Comunicação Social pela PUC-SP. Passou por redações de Jornal da Tarde, O Estado de S. Paulo, Jornal Propmark e Saraiva Conteúdo, cobrindo por mais de 15 anos as áreas de cultura, literatura e comunicação. Agora, divide o seu tempo entre o trabalho de edição de livros e a escrita sobre o cotidiano, seus personagens, dramas e reflexões.
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O restaurante era modesto, mas o garçom estava vestido com bastante elegância: gravata borboleta, colete preto e uma camisa branca que parecia ter sido passada e engomada, cuidadosamente. Sua aparência lhe aproximava dos 70. Possuía um porte altivo e fazia gestos firmes enquanto explicava à única cliente os segredos daquele prato:
Todos têm entre 15 e 16 anos. Entram no metrô rindo alto, falando alto, gesticulando demais.
Era madrugada e o caminhão recolhia os lixos deixados pelos restaurantes naquela tarde.
Mãe e filha discutem na calçada. A adolescente desinibida está maquiada, roupa justa e tem um andar de Beyoncé. A mãe, rosto cansado pelo tempo, vestindo saia longa e usando um coque despenteado, segura com força o braço da menina. Gesticula, o dedo indicador balançando perto da boca contornada de vermelho exuberante. Puxa a jaqueta dela, na tentativa de cobrir-lhe o umbigo. A menina argumenta pouco, faz aquele típico movimento com os ombros: “não estou nem aí”. Se distancia. A mulher leva as mãos à cabeça.
O inseto voa até a pia do banheiro. Pousa
.
Quando finalmente consegui me divorciar, não só no papel, mas no coração, fui ao teatro sozinha.