Para os aficcionados por Ingmar Bergman:
"Luz de Inverno"
Depois de ler um texto de Ferreira Gullar em que o poeta chamava os espaços públicos brasileiros de "valhacoutos de mendigos", entendi por que nossas praças são como estações de trem: locais de trânsito, jamais de permanência. Como diria o poeta Francisco Alvim, munido do ethos de nossa sociedade eugênica, "o parque é bom, mas é muito misturado"
Em um botequim uruguaio, mais uma charla corriqueira
(Um físico chamado Albertinho discute as irradiações da relatividade)
Você consegue imaginar o estatuário urbano sem a guerra eqüestre?
Concessão da virtude ao vício: diante da demanda dos emergentes cada vez mais rentáveis, a ourivesaria de detalhes do poeta o acaba cegando
Você ouve o estalido da grama?
O Subsolo das Memórias ainda resgatará os escombros literários de uma guerra efetiva
(Se bem que a guerra civil paulistana me mandou um postal ontem...)
Concessão do vício à virtude: o capitalismo não pode prescindir do ourives, o último poeta rentável
Porque o Direito transforma a maiêutica em brecha da lei
Antes o perigo que o escritório...
Sem a Dulcinéia, nem precisamos iniciar esta conversa, hombre...
Em meio à evacuação literária de nossos tempos, a estátua de Quixote de fato se transforma em um moinho de vento
Síntese para os movimentos de independência da América Latina:
"Façamos a revolução antes que o povo a faça"
Porque os leitores de "O Grande Inquisidor", capítulo fulcral d'"Os Irmãos Karamázov", já reconhecem que não é mais possível a fé a reboque do mistério. Se Deus não existe e tudo é permitido, é possível descobrir onde Deus se escondeu
O problema é a sobriedade cotidiana da ressaca...
(Os leitores de Thomas de Quincey discordariam de minha afirmação se suas sinapses não trocassem a fala pelo olfato)
Acompanhemos Josef K. enquanto o punho do tribunal se lhe insinua
O leitor e este estoriador do subsolo fazem as vezes da quarta aresta
Os uruguaios discordam de Nelson Rodrigues:
Toda nudez irá castigar
Presente do Sport Club Corinthians Paulista à freguesia do Santos Futebol Clube após o eterno 7 x1 que presenciei em 2005, no estádio Paulo Machado de Carvalho, também conhecido como Pacaembu
Os idólatras da natureza supõem que, em meio à selva, alcançam o coração das trevas
O único problema é que o coração das trevas foi mediado por Joseph Conrad, ou por outra, a única questão é que a nostalgia que se quer perto do coração selvagem precisa lidar com o fato capitalizado de que a natureza é efetivamente humana em nosso contato mediado pela cisão urbana
Para os leitores d'"O Processo", eis a fábula "Diante da Lei"
Enquanto as narcísicas arcadas da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco emulam os anódinos presidentes da República Velha, a Universidad de La República mostra a que veio
(O DOPS uruguaio agradece pela localização prévia dos futuros torturados)
Não se engane: quem introjeta o sadomasoquismo a ponto de estudar Processo Civil transforma esse belo enclave em puro ressentimento. Afinal, por que enaltecer a vida quando o autoflagelamento deve caminhar sob a couraça do terno?
Presente de Hollywood aos grevistas
Em algum lugar da Av. 18 de julho
... a Comissão da Verdade, sem qualquer poder punitivo, quer atestar para os devidos fins e enfins que os testículos esquerdos foram mais lastimados que os direitos
(Não à toa Hobbes afirmou que não há exército sem espada; também por isso a Justiça venda os olhos)
Entrevista prévia com os sogros - a bela à espreita
Enquanto isso, na Terra Brasilis...
... a Comissão da Verdade, sem qualquer poder punitivo, quer atestar para os devidos fins e enfins que os testículos esquerdos foram mais lastimados que os direitos
(Não à toa Hobbes afirmou que não há exército sem espada; também por isso a Justiça venda os olhos)
– Ana, tenho que te falar algo muito difícil...
– Que que foi, meu bem?
– Tenho que te falar algo muito delicado, Ana...
– Renato, que que foi?!
– Algo muito delicado...
– Renato!
– ... algo muito difícil...
– Fala,
– ... tenho que te falar.
– logo!
– Ana:
– Re-na-to!?
– Eu te amo.
Ia perguntar se você imagina um sorriso assim em São Paulo, mas descartei a questão por sua completa ociosidade. No entanto, creio que vale a pena perguntar o seguinte: suponhamos que ainda haja tais escombros na capital que acaba de eleger Fernando Haddad. Muito bem: você acredita que ele resiste aos próximos dez anos da nossa construção civil?
Você já sonhou que morava em um bairro cujas histórias oprimiam a mais tenra possibilidade da imaginação? Como se, a cada prenúncio de uma estória, o novo tivesse que se curvar diante das camadas da memória. Talvez seja por isso que a altivez envelhecida quer tanto falar: é preciso libertar as estórias para que as costas abauladas deixem de sentenciar o aposentado côncavo
Cresci ouvindo pilhérias sobre o bom e velho Fiat 147
Mas nenhum outro carro é tão solidário ao deserto de nossos bolsos
Basta encher o tanque para dobrar o preço do possante
"É sempre noite, senão não precisaríamos de luz"
O artista nos insinua a solução para que Caim não mais pise sobre a face da Terra
(O único problema é que Abel também será calado...)
Um afago para os leitores de "Crime e Castigo":
eis a gargântula que conduz à casa uruguaia de Ródion Românovitch Raskólnikov
Em Montevidéu, a cadência dos passos modula o ritmo da captura fotográfica
Muitas vezes, em plena quarta-feira, me vi e ouvi só pelas alamedas de árvores nuas e retorcidas
Um amigo uruguaio, poeta ausente desta foto, pergunta pelo fim de Walter
Eis onde ele está, hermano, clique aqui e você o encontrará:
http://subsolodasmemorias.blogspot.com.br/2012/09/taliao-em-sao-paulo.html
Prenúncio de um jantar romântico...
... não tivesse sido eu o cozinheiro...
Paleta
(O Passat 85 sintetiza a morosidade do tempo em Montevidéu)
À esquerda, por sobre meu ombro, a hospedaria da Dona Concepción
A memória se confunde com os vincos das cores em fuga
Quase me hospedei na varanda sobrelevada
Lapso imperdoável: a agência de publicidade extra-oficial se esqueceu de dizer que, ao fim dos céleres quatro meses, já será possível ler o mais novo romance de Paul Rabbit
Afinal de contas, segundo o compositor de Raul Seixas, James Joyce escreveu romances cujos enredos cabem sem mais em um post do Twitter
Mas, se não me engano, Paul Rabbit chegou a afirmar certa vez que o universo, em sua simplicidade, bem cabe em um grão de areia. Pois muito bem, Paul: dada a micrologia do universo e dada a facilidade com que os conflitos encarniçados se reconciliam, me parece que o universo da sua língua portuguesa também cabe neste grão de areia, não é mesmo?
Afago para os leitores de "O Idiota":
conheçam Aglaia Iepántchina
Quase me hospedei na varanda à esquerda
"Papai, papai, que desenhos são aqueles no céu, papai?"
"Talvez sejam os mapas dos profetas, Ricardinho"
"E pra onde eles levam, papai?"
"Bom, meu filho... Até agora, todos os caminhos levaram a Roma"
O marasmo democrático requer a leitura silenciosa
Não sabia que Deus havia posto as barbas de molho
- Saúde, Flávio.
Obrigado
Não vou me esquecer da longa conversa que tivemos com o Prata como testemunha, Sr. Juan Pablo
Visitei todas as cercanias que o senhor me indicou; só não posso garantir que resgatei o lirismo imagético que o seu baixo jazzista sempre trazia à tona nas noites de Montevidéu
Saludos, amigo!
O velho e o rio
(Porque Hemingway também aportou em Montevidéu)
Nunca vou esquecer que, aos 8 anos, contrastei concretamente o contorno livresco do litoral arregimentado por um atlas com as curvas sinuosas e salientes da costa
Forma à revelia do conteúdo
Meus amigos, ainda bem que a mediação protege vocês dos açoites do vento às margens do Prata
Che tinha "La Poderosa", uma belíssima motocicleta
Eis o meu possante América Latina adentro
Quando os ramos da esquerda ficam ilhados pela palma da mão, ou por outra, quando o momento histórico torna nebulosa qualquer perspectiva de transformação da totalidade social, qualquer tipo de constestação se neutraliza como um "work in progress"
(Mero detalhe o fato de a indústria cultural saber escoar os ready-mades esquerdistas para os nichos de mercado de suas editoras.)
Quando os ramos da esquerda ficam ilhados pela palma da mão, ou por outra, quando o momento histórico torna nebulosa qualquer perspectiva de transformação da totalidade social, qualquer tipo de constestação se neutraliza como um "work in progress"
(Mero detalhe o fato de a indústria cultural saber escoar os ready-mades esquerdistas para os nichos de mercado de suas editoras.)
A paleta rosa sussurra para o inverno nu da árvore que as cores não demorarão a despontar
Só sinto não ter visto o outono do Rio da Prata - gostaria muito de ter ouvido o estalido das folhas secas contra o click da minha objetiva
Narrativas ocultas pelas pálpebras cerradas
Em comparação com Buenos Aires, Montevidéu demonstra um certo desdém por sua beleza
(A quietude do caráter nacional se irradia para o belo plácido das calles)
Se o capitalismo fosse sempre idêntico a si mesmo, vale dizer, se não houvesse nenhuma contrapartida para o ímpeto tautológico do (mais-)lucro, a imagem em questão seria mais um dos escombros entre os muitos estacionamentos e fast foods estúpidos de São Paulo. (De fato, God bless ignorance: há alguma esperança no fato de os empreendedores de São Paulo não falarem espanhol; ao menos por ora, o belo não precisa ser relegado à lembrança histórica do cartão postal.)
Quem dera o espectro fosse mais tangível do que sua cooptação
Porque a vida nem sempre é agora...
Sorriso pálido na Av. 18 de julho, a artéria da capital uruguaia
Porque Dalí aprontou das suas em Montevidéu...